sábado, 22 de dezembro de 2007

Barca furada não é a dele


Não há como questionar a capacidade de Vanderlei Luxemburgo como técnico de futebol. São várias as conquistas no território nacional, em especial os cinco títulos de campeão brasileiro alcançados no comando do Palmeiras no biênio 93-94, em 98 no Corinthians, em 2003 no Cruzeiro e em 2004 no Santos.

Não se deve jogar fora também sua passagem pela seleção brasileira, que lhe rendeu mais uma conquista – foi campeão da Copa América de 1998 –, apesar de todos os problemas jurídicos envolvendo seu nome que teve de enfrentar depois.

Estes são apenas algumas dos 23 troféus levantados por Luxemburgo no ofício de treinador.
O objeto de discussão deste comentário, no entanto, consiste em uma observação pertinente: depois de ser convidado pela co-gestora do Palmeiras, a Parmalat, em 1993 para dirigir a equipe palmeirense, Luxemburgo não conseguiu obter resultados significativos em campo com times mais humildes.
Um exemplo disso foi sua fracassada passagem em 1995 pelo Flamengo, quando conquistou a Taça Guanabara e no mesmo ano assumiu o Paraná Clube, que hoje amarga a Série B do Brasileirão.

Dali em diante, só assumiu equipes com material humano de renome, que tivesse destaque nacional e em alguns casos que ultrapassasse as fronteiras do continente. Foi assim novamente no Palmeiras ainda com a Parmalat (1996), com o Santos (1997), com o Corinthians (1998), com a seleção brasileira (1998 até 2000), voltou ao Corinthians em 2001 para no ano seguinte retornar ao comando do Palmeiras na fatídica temporada que levou o alviverde à Série B de 2003 (Luxemburgo saiu do Palmeiras bem antes de ser decretado o descenso). Ainda em 2002, Luxa foi contratado pelo Cruzeiro para tomar as rédeas de um ambicioso projeto que visava grandes conquistas para 2003, quando conseguiu a “tríplice coroa” com as conquistas do campeonato mineiro, da Copa do Brasil e do Brasileirão; com vaga garantida na Libertadores-2004, porém, e com os craques Alex e Rivaldo no elenco, fracassou no torneio sulamericano.

Com os resultados negativos na Libertadores, o treinador foi convidado para treinar o Santos naquele mesmo ano, quando após a conquista do Campeonato Brasileiro deixou a Vila Belmiro para comandar os “galáticos” do Real Madrid (ESP), onde não obteve muito sucesso, retornando ao Santos em 2006, de onde saiu semanas atrás ao ouvir do presidente santista Marcelo Teixeira que haveria uma contensão de despesas, inviabilizando grandes contratações. Diante disso, Vanderlei Luxemburgo foi anunciado nesta última semana como o novo treinador do Palmeiras.

Nas imediações palestrinas, comenta-se o investimento da empresa de marketing esportivo Traffic com um fundo de R$ 40 milhões para contratação de jogadores. Daí, explica-se a volta de Luxemburgo ao Palestra Itália: há a pretensão de se montar uma equipe forte.

Enquanto isso, Muricy Ramalho elevou seu nome no cenário nacional através da conquista de resultados positivos com equipes humildes, tendo de “roer o osso” em clubes como Náutico, e principalmente no Internacional de Porto Alegre, em 2003, quando teve de montar um elenco barato pinçando talentos das categorias de base coloradas por dificuldades financeiras que o clube gaúcho enfrentara; em 2004 foi campeão paulista com o São Caetano e voltou ao Inter, onde construiu a base campeã do Mundo em 2006, ano em que chegou ao São Paulo e onde permanece até hoje.

Trata-se de um caminho bem diferente daquele que optou Luxemburgo. Agora no Palmeiras ele enxerga a possibilidade de ter em mãos um esquadrão para levar o verdão a um novo ritmo de conquistas, que já não faz parte do clube há quase oito anos.

Pelo histórico de Luxa, ele não entra em barca furada e este não parece ser o caso do Palmeiras. Resta saber se em meio às tempestades e com a possibilidade da barca aliverde sofrer alguns rombos, ele vai afundar junto. É bem provável que nesta condição ele pegue o primeiro bote e largue a barca palestrina, tal qual em 2002.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

2008: um ano de intensas disputas


O ano de 2008 não começou, mas no que diz respeito às notícias relacionadas ao futebol o caldeirão já está fervendo e há a promessa de embates interessantes e cativantes.

As equipes brasileiras classificadas à Libertadores começam a se movimentar, com destaques para São Paulo, Fluminense e Flamengo. O Tricolor Paulista já contratou o ala Joílson e o zagueiro Juninho, ambos do Botafogo-RJ, e ainda espera mais três ou quatro reforços. O atacante Adriano, da Internazionale de Milão está próximo, assim como o volante Fábio Santos do francês Lyon; surge ainda nomes como o do jovem Diogo, artilheiro da Portuguesa, segundo o repórter Marcelo Lima da Rádio Jovem Pan no programa “Jornal de Esportes”. A favor do São Paulo há ainda a manutenção da base pentacampeã brasileira (até agora só teve o desfalque do zagueiro Breno, vendido na última semana ao Bayern de Munique da Alemanha) e a estabilidade financeira conquistada com a venda de jogadores e com as campanhas de marketing.

No Rio de Janeiro, Flamengo e Fluminense também mantiveram a base de seus elencos e reforçam-nos com nomes interessantes. O zagueiro Rodrigo, ex-São Paulo e que estava no Dínamo de Kiev da Ucrânia, chegou a Gávea e se juntará ao companheiro de posição Fábio Luciano e a outros bons valores como Íbson, Leonardo Moura, Juan, Souza e Maxi Biancucci, assim como o meio-campista Marinho, ex-Galo Mineiro. Pode ser anunciado nos próximos dias o volante Jonatas, que já passou pelo rubro-negro carioca, e que está no Espanyol de Barcelona.

O Fluminense também não ficou parado e já definiu a chegada do volante Fabinho e vários outros nomes são esperados, como Falcao García, do River Plate e carrasco do Botafogo-RJ na última Copa Sulamericana, Washington, que disputou o Mundial de Clubes pelo japonês Urawa Reds, além de Leandro Amaral e Darío Conca, os dois do Vasco da Gama. Com uma zaga composta por Thiago Silva, Luiz Alberto e Roger, e ao concluir a definição do impasse jurídico do meio-campista Thiago Neves, o Flu virá com um time forte para conquistar sua primeira Libertadores.

Os outros brasileiros na Libertadores, Santos e Cruzeiro, ainda não se movimentaram no que tange às contratações de atletas e parecem estar um pouco atrás de São Paulo, Flamengo e Fluminense. No entanto, os treinadores das equipes santista e mineira já estão definidos: Emerson Leão volta à Vila Belmiro depois de cinco anos com o sonho de revelar para o Brasil novos diegos, robinhos, elanos e renatos e Adílson Batista tentará conduzir a Raposa a novas conquistas em 2008.

Outros destaques que começam a pintar para o ano que vem são Corinthians e Palmeiras.
O Corinthians, após decretada a queda para a Segunda Divisão em 2008, foi rápido e definiu o treinador para a próxima temporada: Mano Menezes é o nome do novo comandante alvinegro. Em meio a um ano turbulento, com casos de polícia, dívidas, protestos da torcida e a saída de Alberto Dualibi da presidência, o corinthiano pode pensar na volta à Série A em uma equipe que terá alguns destaques do último Brasileirão, como o uruguaio Acosta (ex-Náutico) e o zagueiro Chicão (ex-Figueirense), além de jogadores menos conhecidos pela torcida, como Rafinha, Lima, Suárez e Valença.

No Palestra Itália a principal novidade, assim como no Parque São Jorge, também fica pela troca de treinador. Saiu Caio Júnior e chega Vanderlei Luxemburgo. Após um ano frustrante, em que perdeu a vaga na Libertadores na última rodada, o Palmeiras aposta todas as fichas no consagrado Luxemburgo e na parceria com a empresa de marketing esportivo Traffic que promete injetar no clube R$ 40 milhões para transferência, além de arcar com boa parte da onerosa comissão técnica do novo comandante alviverde.

Com Luxemburgo controlando o futebol palmeirense, há também a espectativa de uma maior força nos bastidores, já que na última temporada não faltaram reclamações de arbitragem, além dos “chapéus” que a diretoria do Palmeiras tomou em alguns episódios envolvendo transferências dejogadores nos últimos anos.

O amante do futebol pode esperar por um 2008 emocionante. Na Libertadores não faltam favoritos e o RPB Blog destaca a volta de Riquelme para o Boca Juniors, além dos três brasileiros que tiveram maior mobilização até agora: São Paulo, Fluminense e Flamengo.

No segundo semestre, com o Brasileirão em andamento, mais disputas que prometem dar o que falar. O Tricolor do Morumbi provavelmente irá defender o seu título e conquistar o inédito tricampeonato, enquanto que um endinheirado Palmeiras procurará sair de um jejum de títulos que já dura quase oito anos, sem falar de Flamengo e Fluminense, terceiro e quarto colocados, respectivamente, no nacional de 2007.

Não se pode esquecer também do Internacional de Porto Alegre, que com Nilmar e Fernandão brigará pela Copa do Brasil juntamente com o outro favorito Palmeiras, que procurará recuperar-se da vexatória campanha no último Campeonato Brasileiro. Santos, Cruzeiro e Grêmio correm por fora.

Para quem acha o futebol brasileiro decadente e pouco emocionante, 2008 está quase aí para desmentir os pessimistas.

Que venha 2008, e espero que venha pintado de vermelho, branco e preto!

domingo, 16 de dezembro de 2007

16 de dezembro de 2007


16 de dezembro de 2007.

Uma data aparentemente comum a todos. Só aparentemente.

Hoje o são-paulino comemora dois fatos: o primeiro e mais importante são os 72 anos de sua fundação em 16 de dezembro de 1935, que para muitos, na verdade, tratou-se do ressurgimento de um São Paulo fundado em 25 de janeiro de 1930; o segundo fato foi a vitória do Milan sobre o Boca Juniors com destaque para a maior cria do Tricolor do Morumbi dos últimos tempos: Kaká.

Nos seus 72 anos de vida (ou nos quase 78), o São Paulo revelou inúmeros craques, como Roberto Dias, Bauer, Serginho Chulapa, Cafu, Muller, Rogério Ceni e... Kaká, do Morumbi para o Milan, para o Mundo.

Kaká não chegou a fazer 100 partidas com a camisa tricolor, mas naquelas em que participou fez o suficiente para ser considerado um dos jogadores mais admirados pela torcida são-paulina, havendo exceções que chegaram a taxá-lo de pipoqueiro em 2003 por ter ficado de fora da decisão do Campeonato Paulista contra o Corinthians. Justamente em 2003, ano em que o príncipe do Morumbi disputou o Torneio Pré-Olímpico pela seleção brasileira, não teve férias e nem a prepração adequada e com isso acabou se machucando e não pôde ajudar o São Paulo naquela final.

Com isso, Kaká seguiu seu rumo e foi para o Milan escrever mais um pouco de sua história que havia começado profissionalmente em março de 2001, quando do banco de reservas o então delgado Cacá (sim, com “C”, para depois substituí-los pelo “K”) entrou em campo na decisão do Torneio Rio-São Paulo daquele ano para virar uma partida em que o Tricolor perdia de 1 a zero para o Botafogo-RJ fazendo os dois gols são-paulinos que, além do título, garantiram a catarse coletiva em vermelho, branco e preto naquela noite de quarta-feira.

O São Paulo também seguiu sua história e continuou conquistando títulos, assim como Kaká. Foi tricampeão da Taça Libertadores da América e tricampeão do Mundial de Clubes, além do vigésimo primeiro título regional em 2005 e dos bicampeonatos do Campeonato Brasileiro nos dois últimos anos, que somados às conquistas de 1977, 1986 e 1991, garantiram o pentacampeonato nacional.
E Kaká, em uma declaração feliz dada em entrevista à Revista Oficial do São Paulo, disse:  “O que importa mesmo é que hoje eu tenho títulos importantes e o São Paulo é pentacampeão brasileiro, tri da Libertadores e tri mundial. Único no Brasil”.

Sim, Kaká, ÚNICO! E você, com a felicidade de ter proferido palavras como essas, colaborou com sua torcida junto a de milhões de outros são-paulinos para tornar o São Paulo Futebol Clube singular no país do futebol.

Nestes 72 anos de existência, o São Paulo ganhou o status de clube Mais Querido em decorrência da ditadura de Getúlio Vargas nos anos 30 e 40, que proibia a ostentação das bandeiras estaduais, e em decorrência deste fato o São Paulo entrou em campo contra um rival da capital com uma bandeira com suas cores que, quando adicionadas ao contexto político do país e à coincidência delas serem as mesmas cores do estado paulista, o Tricolor foi aplaudido de pé pelo estádio todo, tornando-se então “O Mais Querido”.

O Tricolor levantou também um castelo que recebeu o nome de Cícero Pompeu de Toledo ou o simples, porém sublime, Morumbi.

Há quem se considere “campeão do século 20”. O que falar, então, de um clube que nos altos de seus 72 anos ostenta 38 conquistas oficiais reconhecidas pelos principais órgãos que regem o futebol no Brasil e no Mundo, enquanto que os “campeões do século”, quando tinham os mesmos 72 anos tinham apenas 28, como traz o diário Lance! de hoje.Ainda de acordo com levantamento do jornal, comparando o Tricolor aos 11 maiores clubes do país quando tinham o mesmo tempo de fundação, o São Paulo é o primeiro da lista com os 38 títulos.

Porphírio da Paz, quando compôs o hino do São Paulo,parecia prever em uma de suas estrofes que o Tricolor seria, dentre os grandes, o primeiro. E agora, como lembra Kaká, ÚNICO!
Parabéns Kaká por mais um título e PARABÉNS ao São Paulo Futebol Clube por mais um ano recheado de glórias!

A história de ambos continua e Kaká ainda escreverá mais um capítulo no livro eterno do São Paulo.
A todos os são-paulinos, uma excelente festa neste 16 de dezembro de 2007!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Kaká garçom


Na partida em que se definiu os finalistas do Mundial de Clubes da Fifa, o Milan de Kaká venceu o japonês Urawa Reds do brasileiro Washington por um a zero, com gol de Seedorf após excelente jogada de Kaká pela esquerda, servindo o companheiro holandês.

Kaká é craque e fica até chato repetir isso tantas vezes. Muitos o consideram como um jogador de explosão e com bom arremate, mas acabam se esquecendo de seu lado cerebral já mostrado tantas vezes e evidenciado mais uma vez hoje contra o Urawa Reds.

O príncipe do Morumbi (o São Paulo estará sempre de portas abertas) e de Milão conseguiu aliar o seu jogo peculiar de condução de bola e explosão à função de garçom em diversas excelentes oportunidades que o Milan teve.

Sem dúvidas, é o melhor jogador de futebol do Mundo na atualidade.

A importância das categorias de base na formação sólida de um atleta


O ser humano tem estágios de desenvolvimento físico, motor e psicológico. Dentro destes estágios, após diversos estudos, chegou-se a conclusão que a partir dos 14 anos de idade, em média, podemos especializar um indivíduo em um esporte (antes disso deve-se dar a ele o maior número de estímulos possível para evitar aquilo que chamamos de feedback negativo, que nada mais é a dificuldade dessa pessoa em lidar com outras tarefas motoras diferentes daquela em que foi erroneamente acostumada).

Junto com essa especialização, deve-se exigir do indivíduo posicionamento tático e logicamente um desempenho agradável nos diferentes fundamentos do esporte escolhido.

Portanto, a partir das categorias infantis (sub-15), os treinadores estão aptos, teoricamente, a exigirem um razoável posicionamento de seus atletas em campo, ainda mais com a precocidade que assistimos no futebol especialmente, com atletas sendo profissionalizados com 16 ou 17 anos. Cabe ao treinador, entretanto, saber lidar com outras questões de ordem psico-fisiológicas que atingem os adolescentes nesta idade, que poderão influenciar o desempenho esportivo do jovem – e daí vem apenas uma importância do curso de Educação Física para quem deseja ser treinador esportivo.

O que estamos discutindo, e que está relacionado ao que foi dito anteriormente, é a formação do atleta como um todo. O treinador do São Paulo Muricy Ramalho reclama que não existe mais o “camisa 8” e ele juntamente com outros companheiros reclamam da escassez de “laterais-laterais”.

Na discussão do Footecon-2007, Vanderlei Luxemburgo disse estar preocupado com a eleição de Rogério Ceni como melhor do Campeonato Brasileiro por dois anos seguidos e citou o exemplo de seu ex-comandado no Santos, o zagueiro Adaílton, que segundo o treinador “não sabia jogar na sobra”.

Estou de acordo com o Luxa e acho preocupante mesmo termos um goleiro como melhor jogador do Brasil e competindo ainda com dois estrangeiros. No entanto, o problema não está na formação de atletas, mas sim na necessidade dos clubes em vender os seus bons valores precocemente, sem vê-los desfilar o seu talendo nos gramados tupiniquins com certa regularidade. Afinal, no Brasil sempre surgirão talentos como surgia antigamente, havendo a diferença de não consegui-los manter por aqui por mais tempo. E aí entraremos numa discussão sociológica e econômica do país como um todo.

Sobre o exemplo do zagueiro Adaílton, particularmente vejo isso como uma deficiência na formação do atleta na categoria de base. Treinadores de times infantis ou juvenis devem em seus treinos propiciar ao atleta variações táticas de formação (4-4-2, 3-5-2...) e corrigir defeitos, como no exemplo do jogador santista a noção de cobertura e posicionamento no lugar correto para não chegar atrasado e ser expulso, como reclamou Luxemburgo.

Diante disso tudo, um clube deve ter em seus objetivos institucionais revelar talentos para  a categoria profissional com uma formação sólida em todos os aspectos; a conquista de títulos nessas categorias é secundário, quiçá terciário. Não à toa vemos o São Paulo Futebol Clube arrecadando cerca de US$ 120 milhões nos últimos 12 anos só com a venda de jogadores formados no clube e certa vez, não há muito tempo, vi a entrevista de um dirigente são-paulino (se não me engano o presidente Juvena Juvêncio) falando exatamente sobre isso: que no Tricolor prioriza-se a formação do atleta em primeiro lugar, visando conquistas maiores no elenco profissional.