Jogos envolvendo equipes do cone sul da América são,
historicamente, caracterizados pela pancadaria, catimba e provocações entre
jogadores e torcida. O futebol brasileiro, no entanto, sempre esteve à parte
neste estilo.
Não à toa, apesar do bi da Copa Libertadores alcançado pelo
Santos de Pelé (1962 e 1963), o torneio não despertava grandes anseios nos clubes
de nosso futebol. Tanto era assim qu,e em 1966, 1969 e 1970, não houve
participação de brasileiros, que alegavam se tratar de disputas violentíssimas.
A ambição e preparação voltadas à Copa Libertadores só
amadureceram, de fato, com as conquistas do São Paulo em 1992 e 1993.
Ainda assim, depois de tantos anos, os inconvenientes da
pancadaria, catimba e provocações dentro e fora do campo persistem. E o
brasileiro continua sendo elemento estranho no modo como lida com estes
obstáculos.
Simplesmente, porque não sabe fazer. É outra cultura, outro
estilo. Há exceções – como o corintiano Emerson Sheik na final da Libertadores
deste ano entre Corinthians e Boca Juniors –, mas são raras.
A expulsão de Luis Fabiano na primeira partida da decisão da Copa Sul-Americana
entre o São Paulo e os argentinos do Tigre, no entanto, não se enquadra apenas
na forma de encarar estes problemas.
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Luis Fabiano, em primeiro plano, lamenta a expulsão no jogo Tigre x São Paulo, enquanto companheiros de time e adversários cercam o árbitro da partida (Foto: Daniel Garcia/AFP) |
Cada um lida com o nervosismo e situações de estresse de
modo diferente. Às vezes, com violência. Mas com o atacante tricolor, que tem
diversos problemas disciplinares acumulados ao longo da carreira, esse ato
independe de confrontos sul-americanos.
E independe da repetição. Na primeira faísca, ele pode
explodir. O cartão vermelho lhe foi mostrado com apenas 13 minutos de jogo.
Como o próprio Luis Fabiano diz, ele não leva desaforo para
casa, não tem sangue de barata. Devemos aceitá-lo como ele é.
O problema é que o modo de ser lhe expôs a realidade: Luis
Fabiano aceitou a derrota para si.
Ele, que voltou ao São Paulo para ser campeão, estará
ausente do jogo decisivo em um Morumbi lotado. Sentimento de “frustração”, “o
pior momento da carreira”, “vontade de largar o futebol e viver em paz”,
segundo suas próprias palavras.
Luis Fabiano assume essa derrota pessoal para ele mesmo. Certamente, a pior
derrota que um profissional pode sofrer.
Se o São Paulo for campeão, fica a eterna frustração por não
ter participado da partida final, até que ele tenha nova chance (e não a
desperdice novamente).
Se o Tigre for o campeão, ele carregará consigo o peso da
derrota, multiplicado sabe-se lá por quantas vezes em relação a seus
companheiros de clube.
De fato, deve ser o pior momento da carreira, que o próprio
Fabuloso compara com a morte do avô que o criou.
A Copa Sul-Americana, por óbvio, não tem o mesmo status da
Libertadores.
Se tiver a oportunidade de conquistar o grande torneio do
continente, Luis Fabiano não terá apenas de superar as dificuldades históricas
de pancadaria, catimba e provocação em prol do time.
O seu desafio agora é pessoal. Vencer a si mesmo e viver em
paz com o futebol. Sem largá-lo.