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“Brasil, ame-o ou deixe-o”.
Este era o slogan adotado em diversas campanhas publicitárias
durante a ditadura militar no Brasil, especificamente no período em que o país
foi governado pelo general Emílio Gastarrazu Médici.
Este é também o raciocínio do filhote daquele nebuloso e
nada saudoso regime, responsável por comandar o futebol brasileiro: José Maria
Marin, atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol.
O discurso inflamado de Marin ao final da coletiva de
apresentação do novo treinador da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, foi teatral.
Mostrando-se indignado contra aqueles que defendiam um
estrangeiro, no caso o vitorioso Pep Guardiola, para o cargo de comandante do
time da CBF, vociferou, gesticulou, bateu na mesa.
Incorporou todas as características de político
desenvolvidas nos tempos de deputado, vice-governador e governador biônico.
Em seu discurso, exaltou o nacionalismo, o patriotismo. “Precisamos
dar valor às nossas coisas, aos nossos patriotas, e a nós mesmos”.
Sim, precisamos. E, do mesmo modo, precisamos entender que
os tempos são outros. Vivemos num mundo globalizado, no qual cada vez mais se
sabe o que acontece em diferentes continentes de modo instantâneo. Com o
futebol não é diferente.
Com relação ao futebol brasileiro, a insatisfação com o modus operandi é notória – desde a
administração até o modelo de jogo adotado.
E as críticas não se restringem às observações feitas pelos
brasileiros. No ano passado, a respeitável revista inglesa “Four Four Two” publicou
uma reportagem de capa em sua edição de julho na qual destacava a “morte” de
nosso futebol.
Mais recentemente, para ser exato na última quarta-feira,
durante a Soccerex, feira de negócios voltados ao futebol que ocorre no Rio de
Janeiro, Paul Breitner, campeão mundial com a Alemanha em 1974, fez novas
críticas ao jogo brasileiro.
Segundo o ex-craque alemão, o Brasil “parou no tempo”. E
ressaltou que é preciso voltar os olhos para a Europa e observar modelos
vitoriosos com verdadeiro destaque.
Exemplos? Ele cita a seleção espanhola, atual campeã do
mundo e bicampeã da Europa, e o Barcelona.
Este Barça, hoje com Tito Vilanova como treinador, que sob a
liderança de Pep Guardiola encantou o mundo e despertou debates sobre o seu
modo de jogar futebol: posse de bola, movimentação constante e velocidade.
Depois de golear o Santos de Neymar no Mundial de Clubes
2011, Guardiola justificou a apresentação de sua equipe amparando-se no futebol
brasileiro: “O que tentamos fazer é tocar a bola o mais rápido possível. Na
verdade, é o que o Brasil sempre fez, segundo me contavam meus pais e meus avôs”.
Atualmente, o que se pratica nos estádios brasileiros não é
fonte de inspiração. Pelo contrário, é motivo de questionamento e críticas,
internas e externas, como se viu na matéria da “Four Four Two” e na análise de
Paul Breitner.
O talento dos jogadores brasileiros é inquestionável. Eles
continuam despertando o interesse de grandes clubes do exterior.
No entanto, nossos treinadores adotam estilos antagônicos
àqueles que façam da reunião de atletas promissores que surgem ano após ano um
conjunto que encante e promova – em conformidade com as exigências físicas da
atualidade – um futebol mais próximo daquilo que a seleção brasileira e clubes
do passado costumavam apresentar.
Olhar para fora é importante. Mas quando se tem a
oportunidade de fazer um convite ao treinador mais bem sucedido dos últimos
anos – Pep Guardiola –, não há como descartar esta opção por questões
patrióticas, por mais conquistas (mundiais, inclusive), por mais respeitáveis
que sejam as carreiras de profissionais brasileiros como Scolari e Parreira.
Não se trata de desmerecê-los. É preciso entender que o
Brasil, o futebol brasileiro, precisa de mudanças. Ao acompanhar de perto um
treinador de modelo reconhecidamente prestigiado como Guardiola e que, segundo
o próprio, tem a influência do futebol brasileiro do passado, poderíamos
promover uma nova mentalidade entre os treinadores do país.
O torcedor e cidadão brasileiro merece ver a arte do futebol
ser reconhecida novamente lá fora. Não pode nos bastar que qualquer
estrangeiro, quando se fala de futebol no Brasil, lembre de nomes: “Pelé”;
“Garrincha”; “Ronaldo”; “Neymar”...
É imprescindível o resgate de nomes compostos do presente visando o futuro, como foi no passado: “a seleção de 70”; “a seleção de 82”; “o Santos de Pelé”; “o Flamengo de Zico”; dentre outros esquadrões que foram brilhantemente formados.
É imprescindível o resgate de nomes compostos do presente visando o futuro, como foi no passado: “a seleção de 70”; “a seleção de 82”; “o Santos de Pelé”; “o Flamengo de Zico”; dentre outros esquadrões que foram brilhantemente formados.
Para isso, é preciso mudar. Para isso, é preciso ter a
humildade de que podemos tirar lições do futebol vindas de outros países. E não
será com a mentalidade ditatorial do “ame-o ou deixe-o” que conseguiremos.
Como já dito, são outros tempos. Tempos que o nosso futebol
– dentro e fora de campo – não tem conseguido acompanhar.
O alemão Paul Breitner mostra conhecer o futebol brasileiro
melhor do que quem o comanda.