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Se você perguntar a qualquer torcedor o que ele espera do
clube pelo qual ele torce, possivelmente a resposta será “títulos”, no plural,
e não no eventual. Para chegar às conquistas, a receita é, basicamente, ter à
disposição um elenco competitivo, uma comissão técnica competente e uma boa
estrutura física e de gestão.
Disputar títulos é o anseio do são-paulino, na seca desde
2008. O momento da equipe comandada por Ney Franco é positivo e o São Paulo
pode fechar 2012 com a conquista da Copa Sul-Americana. Por outro lado, fora de
campo, o Tricolor se vê diante de um clima nebuloso – e isto é (ou deveria ser)
de total interesse dos fãs do time do Morumbi.
A sombria administração do São Paulo teve início em 2011,
com o golpe no estatuto do clube desferido pelo presidente Juvenal Juvêncio,
reeleito pela terceira vez seguida após a mudança estatutária. O ápice desta
situação se deu nesta semana, com o pedido de demissão de René Simões,
contratado para ser coordenador técnico do clube na integração dos
departamentos de futebol de Cotia, onde treinam as categorias de base, e da
Barra Funda, onde convivem os profissionais.
Oficialmente, os dirigentes são-paulinos afirmaram que
Simões deixou o cargo por questões pessoais. A versão do ex-coordenador
técnico, no entanto, em nota oficial publicada em seu site (clique aqui),
é o exato oposto e, claramente, dá a entender que houve ingerência sobre as
suas funções dentro do clube.
“É uma questão muito simples entre o entendimento do cargo e
a função do cargo. O cargo pertence, em qualquer momento, à instituição, enquanto
a função pertence por definição do organograma e do fluxograma a quem senta na
cadeira referente ao mesmo”, diz Simões ao explicar a sua decisão de deixar o
clube. Ele também invocou o polêmico episódio ocorrido entre Ney Franco e
Rogério Ceni, que tentou fazer valer uma ideia de substituição, prontamente
negada pelo treinador, em jogo da Copa Sul-Americana.
Já se especula que a razão que motivou a sua saída foi a
demissão de um treinador do time sub-15 do São Paulo depois de ser eliminado
pelo rival Corinthians.
Independente do motivo, é importante que este cenário sirva
de reflexão para o torcedor são-paulino. A despeito do bom momento da equipe
profissional, é preciso pensar adiante, no futuro.
O pronunciamento de René Simões, diferenciando cargo de
função, é sintomático. Em um ambiente profissional e de gestão condizente com
as transformações do século 21, é impensável que se administre uma instituição
sob o conceito do absolutismo, no qual uma única pessoa dita todos e quaisquer
rumos. Este é o São Paulo de Juvenal Juvêncio.
O panorama atual do time profissional, que enche o
são-paulino com a esperança de vibrar com uma conquista, é efêmero neste estilo
de administração. Se é um exagero dizer que, com Juvêncio e seu estilo de
gerir, o Tricolor vive o risco de tragédias futuras – como por exemplo, o
rebaixamento à Série B –, no mínimo se deve levar em consideração o que se
assistiu nos últimos dois anos, com o São Paulo longe da disputa do principal
torneio internacional do continente, a Copa Libertadores da América.
A derrocada, que aparentemente será interrompida ao fim de
2012 com a garantia de uma vaga na competição continental de 2013, significa
que os torcedores são-paulinos viram o seu time distante da briga pelos
primeiros lugares. Não se trata de ganhar títulos apenas, mas de disputa-los –
é isso que se espera de um clube grande e organizado.
A saída de René Simões expõe um São Paulo ultrapassado e põe
em xeque o futuro a longo prazo. O trabalho que ele pretendia realizar é
fundamental e só se torna viável quando o profissional escolhido para o cargo
tem total autonomia sobre as suas funções.
Seja qual for o substituto de Simões, a linha de pensamento
absolutista que rege o Tricolor de hoje em dia não deixa crer de que se resultará
em algo produtivo, eficiente e muito menos permitirá a sintonia essencial entre
Cotia e Barra Funda.
A ingerência que culminou na saída do ex-coordenar técnico
tricolor é prejudicial e já foi vista no time profissional. O caso mais recente
foi quando Paulo Miranda foi afastado às vésperas de confronto eliminatório da
Copa do Brasil deste ano.
Juvêncio age de acordo com o que lhe vem à cabeça, de acordo
com suas convicções. Já dizia o filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “As convicções são inimigas mais perigosas da
verdade do que as mentiras”.
Sendo assim, o que impedirá o presidente de agir impetuosa e
inoportunamente sobre o trabalho do competente Ney Franco, que no episódio com
o capitão e ídolo Rogério Ceni já deixou claro que não tolera interferência em
sua função de treinador? Nada o impede, o que coloca em risco a saída de um
grande profissional.
O São Paulo precisa de mudança. Na verdade, precisa de uma revolução. E não é no elenco, menos ainda na comissão técnica. As transformações passam, diretamente, pela adequação a uma linha de gestão moderna, a qual, definitivamente, Juvenal Juvêncio e seus asseclas – que se mostram meros súditos – não fazem parte.
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