Minha primeira coluna no Blog do
São Paulo merece tratar de um assunto pouco discutido. Sou um amante do
futebol: a tática do jogo, esquemas, bastidores, preparação física. Certamente,
abordarei esses temas nesse espaço, pelo qual sou imensamente grato à Kátia e
ao Zanquetta, em textos futuros. Mas, quando se fala desse esporte – e,
sobretudo, quando se fala do São Paulo – devemos ir além desses aspectos para
entendê-lo.
As comemorações pelo centésimo
gol de Rogério Ceni no clássico contra o Corinthians ofuscaram uma declaração
do goleiro-artilheiro que me chamou a atenção. Em resposta sobre a relevância
do feito para um goleiro, o capitão são-paulino disse ficar feliz, pois “no
futebol, quando você para, as pessoas vão se esquecendo de você”.
No sábado anterior ao histórico
Majestoso, tive o prazer de conhecer Hideraldo Luiz Bellini, o capitão da Copa
do Mundo de 1958 que vestiu o Manto Tricolor por seis anos de sua carreira
(1962 a 1967).
Bellini está com 80 anos e sofre
do Mal de Alzheimer. Fui até sua residência para cobrir a homenagem que o
Avaí-SC prestou ao ex-zagueiro, que eternizou o gesto de erguer a taça de
campeão sobre a cabeça e que terá os pés eternizados na “Calçada da Fama” do
Estádio da Ressacada, em Florianópolis.
Dona Giselda Bellini, esposa do
eterno capitão, disse que pessoas do São Paulo mantêm contato com a família e
prestam esporádicas assistências.
É bonito que haja essa
preocupação e carinho por parte de alguns dirigentes são-paulinos. No entanto,
quando se trata de um ídolo nacional como Bellini, a prestação de auxílios não
basta. Bellini faz parte da história do futebol brasileiro, da história do São
Paulo e, portanto, deve ser repassada de geração para geração.
Homenagens e relatos, feitos em
vida ou póstumos, deveriam ser mais frequentes. A resignação de Rogério Ceni é
compartilhada por Dona Giselda que, diante da lembrança do Avaí-SC, disse “ser
um reconhecimento, porque aqui no Brasil não existe história”.
É preciso mudar isso. O jovem
torcedor são-paulino que somente agora começa a acompanhar o time precisa saber
quem foi Bellini. E precisa saber que, na mesma época em que o capitão da Copa
de 1958 vestiu a camisa do São Paulo, ele atuou no mesmo time do melhor atleta
tricolor da década de 60, Roberto Dias Branco – o melhor marcador de Pelé,
segundo o próprio.
Bellini não conquistou títulos
pelo São Paulo. Roberto Dias comemorou apenas um, o Campeonato Paulista de
1970. Era a época de vacas magras na história tricolor em função da construção
do Morumbi.
Já Rogério Ceni é um multicampeão
pelo Tricolor e possui marcas tão ou mais significativas quanto as de Bellini e
Roberto Dias. Ainda assim, existe a preocupação desse ícone mundial – que transcende
os limites da torcida pelo São Paulo, invade os estados do país e ultrapassa as
fronteiras entre as nações – em ser esquecido ao final de sua carreira.
Bellini, Roberto Dias, Rogério
Ceni, dentre tantos outros ídolos, devem sempre ser lembrados e estudados pelo
são-paulino de maneira a despertar a curiosidade do torcedor rival, que deverá
fazer o mesmo com as figuras que marcaram a história de seu clube.
É um ciclo virtuoso. Hoje, é
muito mais fácil de ser colocado em prática devido às inovações tecnológicas de
divulgação, apesar da simples conversa com amigos e parentes mais velhos, ou
contemporâneos de grandes atletas, ser sempre uma boa forma de aplicá-lo.
Conhecer a história do futebol
brasileiro – da tática, dos esquemas de jogo, dos bastidores etc. – passa pelo
aprendizado da história do nosso clube de coração. Além, é claro, de ser a
forma mais respeitosa de agradecer aos personagens que ajudaram a construir a
verdadeira adoração e amor que lhe dedicamos diariamente.
Em tempo: a visita ao Bellini
teve momentos emocionantes. Devido à doença que o acomete, é raro vê-lo em pé,
por exemplo. Naquele sábado, porém, foi diferente. Dona Giselda se revelou
surpresa no momento em que o eterno capitão levantou-se espontaneamente.
“Geralmente ele não levanta, hoje ele está muito bem, feliz, risonho”, disse.
E estava mesmo. Prova de que o
carinho, as homenagens e as lembranças, por menores que sejam, ajudam a
enriquecer a história e o espírito daqueles que ajudaram a construí-la.
É o mínimo que podemos fazer.
Quando amamos algo ou alguém, temos a necessidade de explorar e conhecer o seu passado.
Assim deve ser, portanto, com o clube que você escolheu torcer, acompanhar e
amar.