Dia de Palmeiras e São Paulo sempre desperta uma tensão
diferente, semelhante àquela vivenciada pelos são-paulinos em dia de jogos de
Libertadores ou Mundial (ah, e essas competições nós, são-paulinos, sabemos
muito bem qual o sentimento envolvido!).
Não foi diferente no dia de hoje, que acabou com a vitória
palmeirense por 4x1, o que deixa, justamente, os torcedores alviverdes
empolgados. Talvez eu também me empolgasse se fosse o contrário, assim como me
preocuparia se levasse quatro gols na cabeça.
Mas não, muito pelo contrário. Não consigo me revoltar com o
Muricy Ramalho, nem com o Juninho – expulso no lance do terceiro gol do time do
Palmeiras e que vinha tendo atuações altamente questionáveis desde a sua
contratação – e nem com o Adriano que perdeu um gol que um centroavante com a
quilometragem dele não costumaria perder.
Vamos aos fatos, vamos aquilo que de real aconteceu na
partida.
Choveu muito em Ribeirão Preto, cidade que recebeu o
clássico paulistano. O campo do Estádio Santa Cruz é muito bom desde que não
sofra com os efeitos da chuva, que resolveu aparecer neste domingo e prejudicou
muito o jogo, deixando o gramado pesado, escorregadio e fazendo valer o famoso
“detalhe” do futebol, bem desenhado no primeiro tempo com os gols de Adriano
pelo São Paulo após cobrança de escanteio de Jorge Wagner (a famosa bola
parada) e do ex-tricolor Kléber em bela jogada empatando para o Palmeiras (a
famosa jogada individual).
O mesmo que Kléber que não foi expulso por ter dado uma
cotovelada maldosa em André Dias minutos antes de marcar o seu gol. Talvez –
repito: talvez! – o árbitro não tenha visto o lance e por isso pode-se
absolvê-lo. Mas que se faça a justiça no tribunal da Federação Paulista.
Resumindo o primeiro tempo, pode-se falar que o resultado
foi justo (1x1), com um São Paulo bem posicionado, conseguindo trabalhar bem a
bola e dando poucas oportunidades à equipe do treinador Vanderlei Luxemburgo.
Isso fica bem claro na ineficiência do chileno Valdívia que pouco fez no
primeiro tempo e até mesmo no segundo, apesar do pênalti sofrido que valeu a
virada sobre o Tricolor.
Quando voltou do intervalo, o Palmeiras teve nos primeiros
15 minutos uma maior participação ofensiva, mas o Tricolor conseguiu dominar a
partida depois da parada técnica aos 20, mesmo com a tímida entrada em campo de
Joílson que substituiu um Carlos Alberto já pouco eficiente. Com a entrada do
lateral/ala, o São Paulo passou a atuar com duas linhas de quatro jogadores e
foi assim que criou boas chances, uma delas impressionantemente desperdiçada
por Adriano.
Mas o futebol é imprevisível e aos 30 minutos da segunda
etapa, Júnior foi tentar cortar uma bola na área com um carrinho e o chileno
Valdívia espertamente aproveitou-se da situação indo de encontro à bola. Penalidade
máxima, nada intencional uma vez que o lateral são-paulino visou exclusivamente
à bola e nem viu a chegada do chileno. Denílson, revelado pelo Tricolor,
cobrou, marcou e comemorou.
No desespero, o São Paulo foi para cima com a entrada de
Aloísio no lugar de Júnior. E em uma desatenção do sistema defensivo tricolor –
preocupante, porém compreensível pelo contexto do jogo naquele momento –, o
atacante Kléber foi lançado, entrou sozinho na área e restou ao zagueiro
Juninho fazer o pênalti. 3x1 para o Palmeiras, gol do sumido Valdívia, e a
expulsão do infrator são-paulino.
Mesmo assim viu-se um São Paulo persistente, senão
acreditando numa virada, acreditando que poderia amenizar a situação procurando
o segundo gol e quiçá depois o empate. No entanto, em um contra-ataque do
Palmeiras, Richarlyson derrubou Diego Souza na área. Pênalti que ele mesmo
cobrou e decretando o 4x1 em Ribeirão Preto.
Fim de jogo.
Neste momento muitos pedem a cabeça de jogadores do São
Paulo e do treinador Muricy Ramalho. Tomar uma goleada de um rival histórico
pesa bastante e ninguém está feliz com isso. Deve-se, entretanto, esfriar a
cabeça e analisar a partida racionalmente e perceber as evoluções da equipe de
Muricy. Viu-se maior toque de bola e a insistência nos cruzamentos para as
cabeças de Borges e Adriano não mais existiu, substituída por uma maior posse
de bola e troca de passes.
Coletivamente o São Paulo esteve bem, com uma marcação
eficiente e um trabalho de bola inédito em 2008 até sofrer o segundo gol
naquele lance de Júnior e Valdívia que só se pode atribuí-lo ao acaso, assim
como o resultado final da partida que não reflete aquilo que aconteceu em campo.
Individualmente houve pontos positivos no lado tricolor. Surpreendeu
ver o Juninho, considerado por muitos um zagueiro que só pode atuar na sobra no
esquema com três zagueiros, jogando como zagueiro central e desempenhando bem a
sua função até a sua expulsão. Júnior, que ganhou todas do Valdívia – nem no
lance da penalidade ele perdeu a bola para o chileno, mas a regra é clara e
contra ela não há o que se fazer –, foi o melhor em campo, assim como foi bem o
centroavante Adriano, buscando o jogo, fazendo tabelas com Borges, pecando
apenas no gol perdido após o belo giro em cima do marcador palmeirense quando o
jogo ainda estava 1x1. Borges batalhou muito, como sempre, e Zé Luís passa
bastante segurança na lateral-direita. André Dias, na ausência de Miranda, foi
o xerife da zaga. O goleiro é Rogério Ceni e isso basta.
Negativamente, porém, também existiram destaques. Richarlyson
não é o mesmo de 2007. Carrega demais a bola, erra passes e acaba sendo
prejudicial à equipe. Hernanes e Jorge Wagner ainda estão devendo no presente
ano, apesar do camisa 7 do São Paulo estar se destacando nas jogadas de bola
parada contribuindo com muitas assistências para gol. Joílson continua muito
tímido, não transmite vibração.
O momento, não para menos, é “nitroglicerinico”. Muitos
torcedores estão com os nervos à flor da pele querendo explodir tudo no
Morumbi, achando que nada presta e que tudo está errado.
Pessoalmente, espero que a razão impere nos mandatários
tricolores, na comissão técnica e no elenco. É um momento semelhante à derrota
sofrida para o Atlético-MG por 1x0 em pleno Morumbi no Brasileirão do ano
passado, quando se viu melhoras no time, mas a vitória não veio.
Vejo o São Paulo evoluindo e com a cabeça fria e com muito
trabalho irá melhorar. Para muitos estarei parecendo um “último romântico”,
demasiadamente otimista, mas a verdade é que essa é uma visão pura e
simplesmente racional. Poderia estar revoltado, atirando pedras em tudo e em
todos, ainda mais em se tratando de derrota para um time que, como torcedor
são-paulino, considero o maior rival.
Não me parece nada mais do
que uma fase difícil e que será superada com alguns reparos no elenco e nos
treinos.