Finalmente, consegui assistir MoneyBall, filme conhecido aqui no
Brasil pelo título “O Homem que Mudou o Jogo”. Que filme, amigos! E, depois,
tive que ler um pouco mais sobre a história, toda baseada em fatos reais.
O esporte é envolto pela aura do romantismo. Há condutas seculares
que são adotadas na busca por talentos – quase sempre pautada por análise
individual e por critérios subjetivos.
Via de regra, o esporte sempre funcionou (funciona...) sob o
pensamento de que, quando se perde um jogador, contrata-se outro pensando em
substituí-lo a altura.
O que MoneyBall mostra é o oposto: como a formação de um grupo,
formado com base na união entre a
eficiência da ciência dos números – presente na figura do assistente Peter
Brand (nome fictício – na vida real, o personagem se chama Paul DePodesta) – e a eficácia em sua
utilização – representada pelo general
manager Bill Beane (Brad Pitt) –, pode alavancar uma equipe.
E quando se fala em grupo, não é ao clichê esportivo (“o time está
unido”; “o ambiente no vestiário é excelente”; “corremos uns pelos outros”
etc.) que me refiro, mas sim à concepção de um plantel pautado pela matemática.
Mais: pelo o que cada jogador contratado poderia agregar ao time, com base no
desempenho que apresentavam em dados estatísticos específicos, apesar de serem
contestados por fundamentos técnicos e ou condições físicas.
A história contada no filme mostra que o método foi amplamente questionado,
o começo não foi ƒácil, muito pelo contrário. Ações polêmicas, como a dispensa
de medalhões, tiveram de ser tomadas.
O Oakland A’s gerido pela dupla Beane-Brand (ainda) não foi
campeão. Mas o Boston Red Sox, com poderio financeiro muito maior, adotou o modelo
e conquistou o título.
Bill Beane poderia ter sido a cabeça pensante do Red Sox. Teve
proposta milionária, mas rejeitou-a. Porque acredita poder fazer de seu Oakland
A’s um time vitorioso, sem largar mão da metodologia adotada no início do
século.
Ele “mudou o jogo” (para continuar no título made in Brazil de MoneyBall) pela razão que encobriu a emoção. Mas
ao decidir permanecer em Oakland, mostrou que o romantismo que embebe o esporte
ainda é inesgotável.
Sim, é possível quebrar paradigmas sem perder a paixão.
E o futebol?
Para o amante do futebol, assistir a MoneyBall sem estabelecer
relações com o ludopédio é tarefa praticamente impossível.
Seria possível fazer algo semelhante neste esporte, sobretudo no
Brasil?
Tarefa complicada. A análise subjetiva ainda é imperativa no
futebol brasileiro. Não se trata de prescindir de um talento reconhecido para a
constituição de um grupo, mas sim de escolhê-lo de forma criteriosa, levando-se
em consideração a filosofia de jogo que se deseja implementar e também visando
o desempenho coletivo máximo.
É um desafio interessante para os cientistas do futebol e do
esporte junto dos cientistas que lidam com números.
Precisamos de mais pesquisas e estudos assim no futebol. Ainda
mais neste contexto de mobilização de atletas no movimento Bom Senso FC, cuja
pauta discute a saúde financeira dos clubes e o pagamento de salários, dentre
outros assuntos importantes.