quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

“O chute da esperança”, um presente de Natal


Para quem acha esporte uma banalidade, ou algo supérfluo, eis aqui mais uma prova do contrário. Arrepiante, emocionante.

As aspas que compõem o título deste post é a definição de um pai sobre as realizações de seu filho, Anthony Starego, um garoto autista norte-americano, que sonhava em ser kicker, uma das posições do football, o futebol americano.

O autista tem diversas limitações cognitivas e até mesmo físicas. Não pode, por exemplo, sofrer contatos bruscos, o que é bastante comum no football – exceto na função escolhida por Anthony.

A história dele gerou uma reportagem da ESPN norte-americana e que foi reproduzida no Sportscenter da ESPN Brasil na edição deste Natal.

(Vale o parênteses: história que poderia bem render um documentário.)

Anthony decidiu ser kicker quando assistiu pela TV ao field goal que rendeu uma vitória apertada ao Rutgers Scarlet Knights, time que representa a Universidade de Rutgers, em New Jersey.

Anos depois, Anthony conseguiu, também com um field goal, garantir a vitória do Brick, time de seu colégio.

Vai explicar pra quem acha que o esporte é banal o que o garoto e sua família sentiram a partir de um simples chute...

Que esta história, como em todo Natal, sirva para renovar as esperanças. E que todos tenham um excelente 2013!

Ah! O vídeo você pode assistir abaixo, infelizmente sem a legenda da reportagem que foi exibida na ESPN Brasil.


domingo, 16 de dezembro de 2012

Fenomenal Corinthians


Justo. Justíssimo, Corinthians! Que hoje tem o mundo aos seus pés!

Apesar das boas defesas que renderam a Cássio o prêmio de melhor jogador da competição, foi a final mais equilibrada entre sul-americanos e europeus desde que a Fifa adotou o atual formato do Mundial de Clubes.

O Corinthians fez frente ao atual campeão europeu em campo e o superou por larga vantagem fora dele.

Porque se considerada a diferença técnica dos elencos dos finalistas, o Chelsea me parece ter um grupo superior neste aspecto. Mas deixa muito a desejar na gestão e administração de seu futebol.

Abrahmovic com o seu brinquedinho inglês não preza por uma palavra-chave quando se trata de futebol: continuidade. Nos primeiros percalços, dispensa treinador. Deu certo ao demitir o Villas Boas, apostou que teria o mesmo êxito ao mandar embora Di Matteo, mas não foi assim que funcionou.

O Corinthians, ao contrário, manteve Tite depois da eliminação para o Tolima na fase preliminar da Libertadores 2011.

De lá pra cá, a trinca: campeão brasileiro, campeão da Libertadores e, agora, “o título dos títulos", como definiu o presidente corintiano Mario Gobbi.

Gestão do departamento de futebol, infraestrutura, marketing, acordos políticos que engrandeceram o Corinthians em tão pouco tempo. É o clube de maior faturamento no futebol brasileiro.

E pensar que tudo começou naquele dezembro de 2008, quando os corintianos comemoravam o retorno à Série A com a contratação de Ronaldo, o Fenômeno.

Fenômeno também é o Corinthians. Quem na América será capaz de pará-lo?

Alessandro, capitão do Corinthians, ergue o troféu do Mundial de Clubes (Foto: Reuters)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Lições do ‘professor’ Lucas e da final da Copa Sul-Americana


O São Paulo é o legítimo e campeão da Copa Sul-Americana. Apesar de todo o tumulto e relatos de pancadaria na decisão do Morumbi, o Tricolor foi o time que mais jogou futebol durante todo o torneio.

Futebol que, se personificado, encontra em Lucas a sua projeção durante a campanha são-paulina. Melhor jogador da decisão – com um gol e uma assistência – o craque foi além.

Depois da partida de ida, que culminou com justas críticas ao experiente Luis Fabiano, Lucas deu uma aula que transcende o futebol bem jogado.

Com a  bola no pé, driblou, enfeitou, arrancou aplausos em sua despedida do São Paulo rumo à França, onde defenderá o Paris Saint-Germain. Com sua magia, começou a irritar os argentinos do Tigre.

Sem a bola, lançou mão da catimba: fez questão de mostrar ao seu marcador, o lateral-esquerdo Orban, o resultado da pancadaria argentina. O algodão que estancava o sangue de uma cotovelada impune do jogador portenho lhe foi oferecido por Lucas, de semblante sério.

O fator Lucas foi preponderante para que o time argentino protagonizasse o papelão de desistir da disputa dos 45 minutos finais e iniciasse a confusão que marcou o confronto.

No fim, o futebol do São Paulo e de Lucas venceu o jogo. Essa é a lição a ser aprendida pelos jogadores do Tigre.

A outra lição – a um companheiro do elenco – é fruto da inteligência do craque tricolor. O que sobrou de perspicácia no jogador de 20 anos, faltou – e ainda falta – a Luis Fabiano, 11 anos mais velho.

Homenagem da torcida são-paulina a Lucas antes de a bola rolar para o primeiro tempo de São Paulo x Tigre (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)








Retaliações entre os clubes e pancadaria

A pancadaria começou no jogo de ida. O Tigre pouco jogou, bateu muito e ainda assim conseguiu cavar a expulsão do descontrolado Luis Fabiano.

A postura do time argentino reafirmou uma cultura latino-americana nos torneios de futebol disputados pela América (clique aqui para saber mais). Algo que deveria ser tratado com mais contundência pela Conmebol, sobretudo em relação à postura da arbitragem – os jogadores são-paulinos já haviam sido vítimas da violência dos chilenos da Universidad Católica.

Para além do campo de jogo, sobrou retaliações entre os dirigentes de clubes. O São Paulo acusa o Tigre de ter dificultado a entrega de ingressos e de ter dificultado o acesso ao gramado da Bombonera em treino na véspera da partida de da decisão da Sul-Americana.

Para o jogo de volta, o Tricolor impediu os argentinos de que treinassem no Morumbi (alegou que o gramado estava castigado devido ao show da Madonna que aconteceu  no estádio dias antes) e apenas comunicou o adversário poucas horas antes do horário em que planejavam treinar.

No dia do jogo, tentou impedir os jogadores argentinos de se aquecerem no gramado.

É compreensível – mas não aceitável – que um time pequeno como o Tigre, que disputou a primeira decisão em sua história centenária, aja desta maneira. Pelo outro lado, é inconcebível que o São Paulo tenha a mesma atitude.

Se o gramado do Morumbi de fato estava ruim, bastava comunicar o time oponente com a devida antecedência.

Não precisava de artimanhas do tipo, que não ganham jogo e só ajudam a acirrar os ânimos.

Entrada do vestiário de visitantes do Morumbi: destruição e marcas de sangue (Foto: Marcelo Prado / Globoesporte.com)

Já a pancadaria que extrapolou as quatro linhas, independente dos fortíssimos indícios de que foi a delegação do Tigre que iniciou toda a confusão no corredor dos vestiários, resta lamentar, pois é improvável que a verdade – se houve ou não armas apontadas para os argentinos – virá à tona.

São acusações graves, que mais uma vez despertam questões sobre a segurança nos estádios que é oferecida pela polícia brasileira. Com uma Copa do Mundo prestes a acontecer no Brasil.

sábado, 8 de dezembro de 2012

O aconchego da alma gremista, da Baixada ao Olímpico, do Olímpico à Arena


O Grêmio, finalmente, abriu as portas de sua nova casa, a Arena Porto-Alegrense.

Este 8 de dezembro de 2012 é para o gremista mais uma prova de que a casa de um clube deste tamanho é o aconchego de sua alma.

Ao deixar de habitar a sua antiga morada – o Olímpico Monumental, que será apenas memória –, com certeza o gremista reviveu todas as emoções que sucederam naquele estádio ao despedir-se dele no Gre-Nal do último domingo.

Vitórias, derrotas, alegrias, tristezas, conquistas, decepções. Um enorme filme passou pela cabeça do torcedor do tricolor gaúcho.

Sentimentos do tipo constituem a alma de um clube e, por conseguinte, a de seu fã.

Ela precisa apenas de um lugar para se confortar: a matéria, o estádio, a casa que habita.

A alma gremista um dia esteve alocada e se desenvolveu no Estádio da Baixada. Depois, engrandeceu-se no Olímpico Monumental.

E agora pousa na Arena.

Onde balançará e se fortalecerá junto da vibração, cantos e avalanches dos torcedores.

É mais do que certo que essa alma tricolor é única. Ela não depende de nada para existir.

Simplesmente, existe. Coexiste. “Com o Grêmio, onde o Grêmio estiver”.



Momento da festa de inauguração do novo estádio gremista, a Arena Porto-Alegrense (Foto: Diego Guichard / Globoesporte.com)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Após nova expulsão, Luis Fabiano adota discurso de quem assume derrota pessoal; adversidades de jogos sul-americanos não são únicos desafios para o atacante


Jogos envolvendo equipes do cone sul da América são, historicamente, caracterizados pela pancadaria, catimba e provocações entre jogadores e torcida. O futebol brasileiro, no entanto, sempre esteve à parte neste estilo.

Não à toa, apesar do bi da Copa Libertadores alcançado pelo Santos de Pelé (1962 e 1963), o torneio não despertava grandes anseios nos clubes de nosso futebol. Tanto era assim qu,e em 1966, 1969 e 1970, não houve participação de brasileiros, que alegavam se tratar de disputas violentíssimas.

A ambição e preparação voltadas à Copa Libertadores só amadureceram, de fato, com as conquistas do São Paulo em 1992 e 1993.

Ainda assim, depois de tantos anos, os inconvenientes da pancadaria, catimba e provocações dentro e fora do campo persistem. E o brasileiro continua sendo elemento estranho no modo como lida com estes obstáculos.

Simplesmente, porque não sabe fazer. É outra cultura, outro estilo. Há exceções – como o corintiano Emerson Sheik na final da Libertadores deste ano entre Corinthians e Boca Juniors –, mas são raras.

A expulsão de Luis Fabiano na primeira partida da decisão da Copa Sul-Americana entre o São Paulo e os argentinos do Tigre, no entanto, não se enquadra apenas na forma de encarar estes problemas.

Luis Fabiano, em primeiro plano, lamenta a expulsão no jogo Tigre x São Paulo, enquanto companheiros de time e adversários cercam o árbitro da partida (Foto: Daniel Garcia/AFP)
Cada um lida com o nervosismo e situações de estresse de modo diferente. Às vezes, com violência. Mas com o atacante tricolor, que tem diversos problemas disciplinares acumulados ao longo da carreira, esse ato independe de confrontos sul-americanos.

E independe da repetição. Na primeira faísca, ele pode explodir. O cartão vermelho lhe foi mostrado com apenas 13 minutos de jogo.

Como o próprio Luis Fabiano diz, ele não leva desaforo para casa, não tem sangue de barata. Devemos aceitá-lo como ele é.

O problema é que o modo de ser lhe expôs a realidade: Luis Fabiano aceitou a derrota para si.

Ele, que voltou ao São Paulo para ser campeão, estará ausente do jogo decisivo em um Morumbi lotado. Sentimento de “frustração”, “o pior momento da carreira”, “vontade de largar o futebol e viver em paz”, segundo suas próprias palavras.

Luis Fabiano assume essa derrota pessoal para ele mesmo. Certamente, a pior derrota que um profissional pode sofrer.

Se o São Paulo for campeão, fica a eterna frustração por não ter participado da partida final, até que ele tenha nova chance (e não a desperdice novamente).

Se o Tigre for o campeão, ele carregará consigo o peso da derrota, multiplicado sabe-se lá por quantas vezes em relação a seus companheiros de clube.

De fato, deve ser o pior momento da carreira, que o próprio Fabuloso compara com a morte do avô que o criou.

A Copa Sul-Americana, por óbvio, não tem o mesmo status da Libertadores.

Se tiver a oportunidade de conquistar o grande torneio do continente, Luis Fabiano não terá apenas de superar as dificuldades históricas de pancadaria, catimba e provocação em prol do time.

O seu desafio agora é pessoal. Vencer a si mesmo e viver em paz com o futebol. Sem largá-lo.