terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Inês é morta

Retratos do absurdo: d eum lado torcedores do Fluminense comemoram decisão do STJD, que mantém o tricolor carioca na Série A; do outro lado, torcedor da Lusa se aflige com a mesma decisão que rebaixa o seu time

Inês é morta.

Sim, cabe recurso e a Portuguesa promete ir até à Justiça comum contra a decisão do STJD. Mas não, de nada adiantará.

A Lusa jogará a segunda divisão em 2014, enquanto o Fluminense permanece na primeira, graças à pataquada lusitana e ao pragmatismo do regulamento.

Dito isso e avançando à questão para evitar injustiças futuras, fruto de um erro pueril, que tal haver mobilização DE FATO por mudanças que evitem a decisão de um campeonato nos tribunais, por motivo tão tolo?

Na minha concepção, as alterações passam – necessariamente – por dois pontos:

I) O básico: estamos no século 21. Tecnologias da Informação e da Comunicação abundam. POR QUE RAIOS NÃO HÁ UM SISTEMA ELETRÔNICO DE SUSPENSÕES NO FUTEBOL BRASILEIRO?

Não custa tempo – é rápido e básico no mundo moderno. Basta querer fazer. As suspensões são devidamente registradas eletronicamente e, no jogo seguinte, o delegado checa a lista de relacionados e comunica um responsável da comissão técnica, caso haja um jogador irregular. Simples. Transparente! Tudo para que o futebol seja decidido em campo.

II) Mudança no regulamento. Que tipo de punição é essa em que você comete uma irregularidade e, além dos pontos conquistados, perde mais três? E ainda ganha uma multa financeira de ônus.

Realmente, não é possível que se passe impune irregularidades. As normas são obviamente necessárias, assim se desenvolveu nossa sociedade, mas elas devem sempre conduzir à justiça. Até porque – como me alertou um amigo –, diante do apelo da opinião pública neste caso da Portuguesa, fico com a sensação de que havia um clamor para que fosse feita justiça com as próprias mãos, de modo a ignorar a regra, o que seria uma injustiça com todos os outros clubes que a cumpriram – inclusive o Fluminense.

Pois bem: se ainda assim, com todo auxílio tecnológico, houver algum clube que infrinja o Artigo 214 do CBJD, que lhe seja debitado apenas os pontos somados na partida. E que se inclua um parágrafo para o caso de derrota desta agremiação (situação em que, portanto, não soma ponto algum), no qual ela será punida com o número máximo de pontos atribuídos a uma vitória no regulamento da competição.

Em tempos de clubes lutando por perdão de dívidas, uma união deles em prol de transformações que só beneficiariam o futebol brasileiro (e imagino que outros esportes também, uma vez que o CBJD se aplica a outras modalidades) não deveria ser tão absurdo.

Não deveria, mas é.

Se os nossos jogadores, envolvidos no Bom Senso FC, querem de fato lutar por um futebol melhor, é preciso refletir – e cobrar publicamente – também sobre a postura omissa dos clubes do país.


O futebol brasileiro é parcamente regido do jeito que é, porque há muita gente que ganha com isso, às custas da paixão dos torcedores e de situações absurdas de violência nos estádios e decisões em tribunais esportivos. Criticar e apelar por mudanças na anacrônica CBF é o mesmo que, em alto mar, avistar somente a ponta do iceberg...