quinta-feira, 18 de abril de 2013

Os patrulheiros da torcida alheia


Em primeiro plano, bandeira com o "Jason"; ao fundo, torcida são-paulina faz festa em frente ao estádio para recepcionar ônibus que trazia a delegação do São Paulo (Foto: Rafael Bueno)
Em primeiro plano, bandeira com o "Jason"; ao fundo, torcida são-paulina faz festa em frente ao estádio para recepcionar ônibus que trazia a delegação do São Paulo (Foto: Rafael Bueno)

Ontem o São Paulo jogou, venceu e convenceu – mais pelo espírito, pela entrega e mobilização de jogadores e torcida, menos pelo futebol apresentado.

Depois do jogo contra o Atlético Mineiro, naturalmente, o que se viu nas redes sociais foram são-paulinos extasiados, postando fotos, comentários, exalando toda a emoção de uma classificação às oitavas de final da Libertadores (não mais que uma obrigação do time, reconheça-se) pelas circunstâncias que se desenharam ao longo da disputa da fase de grupos.

“Soberano”. “Jason”. “O campeão voltou”. Epítetos alimentados pela torcida são-paulina faziam parte dos comentários e imagens espalhadas no Facebook, Instagram e Twitter.

Do outro lado – o da torcida de clubes adversários –, sobrou ironia às manifestações dos tricolores.

No meu grupo de amigos, li um comentário jocoso sobre o fato de o Morumbi não ter atingido lotação máxima na referida partida. A intenção era, claramente, reforçar o rótulo de “torcida modinha” que tentam impregnar sobre a coletividade tricolor.

Constantemente, e quase sempre os corintianos, tratam de desmerecer a capacidade de apoio ao time por parte dos tricolores. Esquecem-se eles que, à parte o momento mágico que vive o Corinthians, também já deixaram o time ao relento em certas situações.

“Modinhas” todas torcidas são neste Brasil em que fácil acesso, segurança e conforto em estádios são elementos raríssimos. Ou um ou outro, nunca todos juntos.

Voltando ao comentário que li, pensei eu: mais de 50 mil são-paulinos foram ao estádio. Ok, “apenas” 75% da ocupação máxima (quase 67 mil). Mas quem esteve presente – e eu estive – não nega: foi um show. Se haviam assentos vazios, o barulho feito para empurrar o São Paulo à classificação foi suficiente para imaginar tais cadeiras preenchidas.

Mais: a ironia se mostra tão sem sentido, pois desconsidera o momento de pressão vivido pelo Tricolor antes do jogo contra o Galo.

Além da pífia (a despeito da classificação) campanha no grupo da Libertadores – e até por isso –, alguns dias antes houve protesto de torcida na entrada do centro de treinamento do clube.

Mesmo assim, o que se viu desde a derrota para o The Strongest em La Paz até a última quarta-feira foi uma enorme e destacável mobilização de são-paulinos com o único objetivo de apoiar o time, jogar junto para garantir a classificação.

Sob contexto diferente, foi o que fez a torcida do Palmeiras no jogo contra o Libertad na semana passada, quando se viu o Verdão avançar para as oitavas da Libertadores.

O contexto é distinto, porque 2013 iniciou com uma gigante nuvem de desconfiança sobre o elenco palmeirense. Por disputar a segunda divisão e por ter nomes modestos no elenco – ao contrário do São Paulo – é natural que a festa de torcedores do Palmeiras tenha despertado maior comoção na imprensa e até em torcedores de times rivais.

No mais, apesar da diferença de contextos, o que fizeram ontem os são-paulinos que entraram no campo de jogo do Morumbi e aqueles que preencheram as cadeiras do estádio foi rigorosamente a mesma coisa que fizeram jogadores e torcida palmeirenses no Pacaembu que recebeu o jogo contra o Libertad.

Coincidentemente, também tendo por base algumas reações de amigos nas redes sociais, vieram dos palmeirenses as manifestações mais irônicas acerca daquilo que viam os são-paulinos publicar.

Vez ou outra, quando a torcida tricolor entoa “O campeão voltou”, esse grito constantemente é ironizado.

Eu, particularmente, não gosto. Porque sigo a lógica: o campeão só volta quando... é campeão! Como desgosto mais ainda do apelido “Soberano”, inventado em ação de marketing do clube, abraçada por torcedores e alguns veículos da imprensa esportiva, e não concebido naturalmente, como as alcunhas “Clube da Fé” e “O Mais Querido”, historicamente associadas ao São Paulo.

Mas é ululantemente óbvio que a expressão “O campeão voltou”, assim como “Jason”, é carregada de simbologia para os são-paulinos. Ela representa a garra que o time mostra em certas situações – e que isso pode culminar em títulos.

Em 2008, na reta final da campanha épica que resultou no tricampeonato brasileiro, o grito começou a se desenhar nas arquibancadas. Faz parte do período vitorioso que viveu o time do Morumbi desde 2005, recheado de conquistas.

Não tem como não interpretar as ironias dirigidas às manifestações de “O campeão voltou” como puro recalque, sobretudo quando vêm de palmeirenses, tão desgostosos nos últimos anos. Basta lembrar o modo como perderam o Campeonato Brasileiro 2010 – em total contraposição à conquista são-paulina de 2008 – e o recente rebaixamento à segunda divisão.

Psicologia de botequim à parte, não dá para negar que toda a patrulha a respeito do que fazem ou deixam de fazer torcedores do clube alheio, faz parte da saudável rivalidade existente no futebol.

Inclusive para os são-paulinos, que serviram como mote desta reflexão. Para exemplificar, fica a constatação do número de tricolores desdenhando da contagiante participação de palmeirenses na semana passada.

Depois de morder com todas as observações feitas, assopro: ainda bem que existem os patrulheiros da torcida alheia! Sem eles, o futebol não teria a menor graça.

Um comentário:

  1. Ah, mas é lógico. Sempre vão existir e devem mesmo existir. O que é o futebol sem a rivalidade, provocação e a zoação? Difícil é ter seu rival sem torcida e sem nada que te possa irritar. :( Hahahahaha

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