Não concordo com aqueles que caracterizam hoje o futebol
brasileiro como fraco tecnicamente. Isso porque nos campeonatos estaduais
existentes Brasil afora, com destaque para os campeonatos Paulista, Carioca,
Mineiro e Gaúcho, e na liga principal do país, o Campeonato Brasileiro, ainda é
possível assistir embates disputadíssimos e jogadas maravilhosas.
Mesmo com a exportação de atletas para o Velho Continente o
futebol alegre, tipicamente brasileiro, apresentado por jovens valores que
surgem sazonal e ocasionalmente, como os são-paulinos Breno e Hernanes, o
cruzeirense Wagner e, há pouco tempo, o Botafogo de Dodô & Cia. que dava
show, ainda está presente neste país.
Opa! Tipicamente brasileiro?
Será?
Não. Tipicamente, hoje e neste momento, não.
No Brasil já há algum tempo vem ganhando espaço a idéia do
“futebol-força”, onde apenas os atletas mais fortes, mais resistentes e melhores
condicionados fisicamente sobrevivem ao impacto, velocidade e dinâmica de uma
partida de futebol contemporânea.
Tal e qual na Europa.
Contudo, não é apenas o aspecto físico do futebol europeu
que vem sendo aplicado no Brasil. Alguns conceitos táticos deste esporte vindos
daquele continente também começam a surgir por aqui, na terra-onde-tudo-pode-acontecer.
Desde que surgiu na Europa nos anos 90, o esquema tático
3-5-2 começou a aparecer no Brasil com algumas adaptações, pois por ser uma
novidade os atletas brazucas não tinham a noção correta de como atuar como alas
ou líberos, peças fundamentais no esquema 3-5-2.
Hoje, devido a esta longa adaptação, já é possível encontrar
excelentes atletas com características de alas e líberos atuando nos gramados
brasileiros, mas ainda são poucos os treinadores que escalam suas equipes em um
genuíno 3-5-2.
Não obstante e 3-5-2 à parte, mais novidades européias
pintam no Brasil.
Em entrevista coletiva concedida após a vitória do São Paulo
sobre o Santos por 2x1 no Morumbi em partida válida pelo Brasileirão-2007, o
técnico do Tricolor Paulista Muricy Ramalho, quando perguntado sobre a
eficiência tática de seu time neste jogo, foi reticente, dando um tapa com luva
de pelica naqueles que criticam o futebol com grande solidez defensiva de sua
equipe: “Tática... É, se fosse na Inglaterra falariam em tática, que esse time
é tático...”.
Na cabeça de muitos cronistas esportivos ainda persiste o
pensamento retrógrado de que uma equipe bem postada taticamente, que ataca com
responsabilidade, buscando o melhor posicionamento de seus jogadores para
anular possíveis contra-ataques adversários e que conta com a cooperação de
todos eles na marcação, seria uma equipe “retranqueira”, que pratica o
“anti-futebol”.
Os europeus, entretanto, enxergariam este padrão de jogo
como algo natural e valorizariam vitórias de uma equipe conquistadas nessas
condições.
Na mesma coletiva Muricy tratou de explicar que a vitória do
São Paulo foi conquistada com a adoção de um esquema que seguia o padrão tático
tão criticado por aqui no qual se percebia uma linha de quatro zagueiros,
composta pelos centrais André Dias e Miranda, pelo polivalente Richarlyson na
lateral esquerda e pelo jovem Breno – zagueiro de origem e autor do primeiro
gol tricolor no clássico – na lateral direita.
Na Europa é bastante comum deslocar um zagueiro para a
lateral. São os casos de Maldini, Puyol e do argentino Heinz quando atuou pelo
Manchester United.
Antes de Muricy, Paulo César Carpegiani, em sua recente
passagem pelo Corinthians, implantou esquema semelhante em que se destacavam as
funções diferentes do zagueiro Betão: quando o Corinthians tinha a posse de
bola, ele era um lateral-esquerdo; quando a posse era adversária, formava o
trio da zaga corinthiana.
A constatação de que certas características do futebol
europeu estão começando a fazer parte do know-how
dos treineiros do Brasil é perfeitamente cabível.
Pelo jeito, esse é o futuro, esse é o caminho.
Não é à toa que o São Paulo de Muricy lidera o campeonato
com um futebol à moda européia.
É bom, também, que os críticos da imprensa façam uma espécie
de reciclagem e revejam seus conceitos de futebol daqui para frente.
O típico futebol brasileiro não mais existirá, mas
certamente a ginga e o DNA da terra-onde-tudo-pode-acontecer continuará fazendo
a diferença neste país e em outros, em especial junto àqueles que importam
nossos atletas e exportam as tendências futebolísticas: os europeus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário