domingo, 16 de setembro de 2007

Um futebol importado da Europa


Não concordo com aqueles que caracterizam hoje o futebol brasileiro como fraco tecnicamente. Isso porque nos campeonatos estaduais existentes Brasil afora, com destaque para os campeonatos Paulista, Carioca, Mineiro e Gaúcho, e na liga principal do país, o Campeonato Brasileiro, ainda é possível assistir embates disputadíssimos e jogadas maravilhosas.

Mesmo com a exportação de atletas para o Velho Continente o futebol alegre, tipicamente brasileiro, apresentado por jovens valores que surgem sazonal e ocasionalmente, como os são-paulinos Breno e Hernanes, o cruzeirense Wagner e, há pouco tempo, o Botafogo de Dodô & Cia. que dava show, ainda está presente neste país.

Opa! Tipicamente brasileiro? Será?

Não. Tipicamente, hoje e neste momento, não.

No Brasil já há algum tempo vem ganhando espaço a idéia do “futebol-força”, onde apenas os atletas mais fortes, mais resistentes e melhores condicionados fisicamente sobrevivem ao impacto, velocidade e dinâmica de uma partida de futebol contemporânea.

Tal e qual na Europa.

Contudo, não é apenas o aspecto físico do futebol europeu que vem sendo aplicado no Brasil. Alguns conceitos táticos deste esporte vindos daquele continente também começam a surgir por aqui, na terra-onde-tudo-pode-acontecer.

Desde que surgiu na Europa nos anos 90, o esquema tático 3-5-2 começou a aparecer no Brasil com algumas adaptações, pois por ser uma novidade os atletas brazucas não tinham a noção correta de como atuar como alas ou líberos, peças fundamentais no esquema 3-5-2.

Hoje, devido a esta longa adaptação, já é possível encontrar excelentes atletas com características de alas e líberos atuando nos gramados brasileiros, mas ainda são poucos os treinadores que escalam suas equipes em um genuíno 3-5-2.

Não obstante e 3-5-2 à parte, mais novidades européias pintam no Brasil.

Em entrevista coletiva concedida após a vitória do São Paulo sobre o Santos por 2x1 no Morumbi em partida válida pelo Brasileirão-2007, o técnico do Tricolor Paulista Muricy Ramalho, quando perguntado sobre a eficiência tática de seu time neste jogo, foi reticente, dando um tapa com luva de pelica naqueles que criticam o futebol com grande solidez defensiva de sua equipe: “Tática... É, se fosse na Inglaterra falariam em tática, que esse time é tático...”.

Na cabeça de muitos cronistas esportivos ainda persiste o pensamento retrógrado de que uma equipe bem postada taticamente, que ataca com responsabilidade, buscando o melhor posicionamento de seus jogadores para anular possíveis contra-ataques adversários e que conta com a cooperação de todos eles na marcação, seria uma equipe “retranqueira”, que pratica o “anti-futebol”.

Os europeus, entretanto, enxergariam este padrão de jogo como algo natural e valorizariam vitórias de uma equipe conquistadas nessas condições.

Na mesma coletiva Muricy tratou de explicar que a vitória do São Paulo foi conquistada com a adoção de um esquema que seguia o padrão tático tão criticado por aqui no qual se percebia uma linha de quatro zagueiros, composta pelos centrais André Dias e Miranda, pelo polivalente Richarlyson na lateral esquerda e pelo jovem Breno – zagueiro de origem e autor do primeiro gol tricolor no clássico – na lateral direita.

Na Europa é bastante comum deslocar um zagueiro para a lateral. São os casos de Maldini, Puyol e do argentino Heinz quando atuou pelo Manchester United.

Antes de Muricy, Paulo César Carpegiani, em sua recente passagem pelo Corinthians, implantou esquema semelhante em que se destacavam as funções diferentes do zagueiro Betão: quando o Corinthians tinha a posse de bola, ele era um lateral-esquerdo; quando a posse era adversária, formava o trio da zaga corinthiana.

A constatação de que certas características do futebol europeu estão começando a fazer parte do know-how dos treineiros do Brasil é perfeitamente cabível.

Pelo jeito, esse é o futuro, esse é o caminho.

Não é à toa que o São Paulo de Muricy lidera o campeonato com um futebol à moda européia.

É bom, também, que os críticos da imprensa façam uma espécie de reciclagem e revejam seus conceitos de futebol daqui para frente.

O típico futebol brasileiro não mais existirá, mas certamente a ginga e o DNA da terra-onde-tudo-pode-acontecer continuará fazendo a diferença neste país e em outros, em especial junto àqueles que importam nossos atletas e exportam as tendências futebolísticas: os europeus.

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